...Feira da Segunda - Feira
Depois de um mês de férias, acordando de 11 pra lá, levantei
mais cedo... Um só destino... Ir a feira e conferir se aquilo que a gente
escuta que é tradição Nordestina também existe em Umarizal. A feira é um lugar
onde todos os ramos de costumes do Nordeste se encontram, o véio bruto, o
menino aperreando a mãe pela sandália que viu na vitrine da loja, os pasteis
assados na calçada escorrendo óleo, o trio tocando forró “em troca de um
trocado”, o cheiro bom da barraca de ervas, o mau cheiro da barraca de sandália
de sola, o engraxate com 72 anos acocado na calçada, o vendedor de portas
dizendo que elas não “incham”, o de mesa batendo nelas e fazendo a zuada
necessária para lucrar o dinheiro da gasolina, o quadriculado dos shorts
masculinos que não combinam com nenhuma camisa a venda, o velho alto falante da
Igreja reproduzindo som em meio as falhas convidando pra missa das 7 horas. O
povo puto da vida por ter que voltar da rua fechada pela feira, os biombos de
dois bambolês e uns retalhos de pano, o vendedor de cd’s gritando é “cinquipurdérreal”,
vendendo jogo pra PRESTECHO 2 que garante ser compatível com o 3, o 4 e o
resto, além dos pornô’s escondidos na pochete. Na nossa feira você encontra de
tudo, salgado, caldo de cana, bolo, doce, o café que dá pra ver o bordado da
toalha da mesa por dentro da xícara, de tão fraco. A senhora partindo o bolo de
macaxeira e lhe entregando na mão. Lenço? Pra quê lenço? Lenço é pá baitola. As
sacolas do povo do sítio lotadas com a feira da semana, até porquê, só tem na
próxima segunda. Tem também o Chevette 73 com a mala abarrotada de tapetes das
mais variadas estampas. A D-10 com os acessórios para cavalos e o sorriso no
rosto de veterinário vendo a loja lotada de produtor rural. Os locais de xérox
cheio de gente tirando cópia de RG, CPF, Cartão SUS e carteira de vacinação, os
taxistas num carro lavado na última vez em 2005 passando uma flanelinha do
retrovisor pro porta-luvas. As testemunhas de Jeová tudo morrendo de calor
dentro de calças e camisas sociais ou vestidos longos, o frigorífico a céu
aberto e as moscas tomando de conta. Os velhos nos bares jogando pife junto de
um oito de cana e um tira-gosto comunitário, a mulher vem olhar o estado do
marido, cheia de sacolas, vê o jogo, da uma gargalhada e vai embora. As motos
fabricadas da década de 70 pra cá ainda “na ativa” fazendo zuada com velhos
pilotando e sem querer soltar a embreagem, sobe aquela nuvem de fumaça preta, a
mulher se “atrepa”, senta de lado, ele solta a embreagem rápido e olha pelo
retrovisor se a mulher ainda está na garupa. Os meninos olhando pras arminhas
de plástico e choromingando: “Me dê uuuuma maiiiinha, cê num me dá naada”. A
mãe pega pelo braço e vai deixar pro pai, que vem olhar o motivo do choro, tira
dois reais do bolso e devolve o sorriso ao rosto do filho. As padarias lotadas,
assim como as sacolas de pão que saem delas. Os sequilhos pra o café da manhã e
os pães para a sopa da janta não podem faltar. As caminhonetas com “risídio”
bem amarradas partindo as nove da manhã pra deixar a carga e voltar pra pegar o
povo. O supermercado lotado, a “suvaqueira” tomando de conta. O Leite do Rosas?
A essas horas já virou um iogurte descendo do “suvaco” pra o “cóis” da calça
amarrada por um cordão. Admirador de Lampião não falta, fã de Luiz Gonzaga bota
fim nos números. O véi pega a véia, agarra e dança ao som de “Luis respeita
Januário”. Coronel não existe, cangaceiro também não, do rico ao pobre, do
litorâneo ao interiorano, todos tornam-se em algumas horas da Segunda Feira
Umarizalense, APENAS, Nordestinos com orgulho e mantém viva no centro de nossa
Umarizal a velha tradição da feira das segundas. Me disseram que eu era atento
“por demais” só porque ví tudo isso enquanto ía no supermercado comprar o
lanche que, mais tarde, levaria pra escola, porém, se não fosse minha atenção
não estaria como estou agora, ORGULHOSO DE SER NORDESTINO, VENDO A ALEGRIA E
SIMPLICIDADE DO MEU POVO e ansioso para a próxima feira, pra ver tudo isso de
novo, porém, a alegria e os sorrisos de lá me movem. Tchau, e até
segunda-feira...
JOÃO MARCELO DE ALENCAR GOMES,aluno do 9º ano do Colégio Efetivo,
Brasileiro por hobby, Nordestino com orgulho
e Umarizalense com amor.